Como empresas de médio porte podem acessar o mercado de crédito de forma assertiva: Um guia do CFO

Descubra como empresas de médio porte podem acessar o mercado de crédito de forma estratégica e segura. Neste artigo, um CFO experiente compartilha orientações práticas sobre análise financeira, escolha da modalidade ideal de crédito, estruturação de garantias e relacionamento com instituições financeiras. Um guia essencial para quem busca crescimento com responsabilidade.

Piove Capital

5/15/20253 min read

Introdução

Em um cenário econômico cada vez mais dinâmico, o acesso eficiente ao mercado de crédito deixou de ser apenas uma alternativa para se tornar uma ferramenta estratégica na gestão financeira de empresas de médio porte. Contudo, esse acesso precisa ser feito com inteligência, planejamento e uma comunicação clara com o mercado financeiro. Como CFO de uma empresa de médio porte, compartilho aqui o que considero essencial para realizar esse processo de maneira assertiva e sustentável.

1. Conheça profundamente a situação financeira da sua empresa

O primeiro passo para acessar crédito é entender exatamente onde sua empresa está financeiramente. Isso vai muito além do saldo em caixa. É necessário ter domínio sobre:

  • Demonstrativos contábeis atualizados (Balanço Patrimonial e DRE);

  • Fluxo de caixa projetado e realizado;

  • Nível de endividamento atual e perfil das dívidas (curto vs. longo prazo);

  • Índices financeiros relevantes, como Liquidez Corrente, Ebitda, Margem Operacional, Geração de Caixa Operacional e Dívida Líquida / Ebitda.

Esses dados são a base da sua narrativa junto a credores e investidores. Quanto mais organizado e transparente for esse conjunto de informações, maior a confiança gerada.

2. Estruture uma governança financeira adequada

Ter um processo de governança claro e um bom controle interno aumenta significativamente a credibilidade da empresa. Bancos, fundos de crédito, FIDCs e outras instituições avaliam não apenas o potencial financeiro da empresa, mas também o nível de organização e controle que ela possui.

Alguns itens que ajudam nesse processo:

  • Conciliação bancária rigorosa;

  • Processos auditáveis e demonstrativos assinados por contadores registrados;

  • Planejamento financeiro com metas e monitoramento constante.

3. Escolha o produto de crédito certo para a sua necessidade

Nem todo tipo de crédito serve para todo tipo de empresa — e muito menos para todo tipo de necessidade. Um erro comum é acessar crédito de curto prazo para financiar despesas de longo prazo ou capital fixo.

Principais modalidades a considerar:

  • Capital de giro com garantia (ex: recebíveis, estoque, imóveis);

  • Antecipação de recebíveis (factoring, FIDC);

  • Financiamento de equipamentos e CAPEX via BNDES ou linhas incentivadas;

  • Emissão de debêntures ou notas comerciais, em casos de estruturação mais sofisticada.

Avalie sempre o custo efetivo total (CET), prazos, carências e garantias exigidas.

4. Tenha uma política de garantias bem definida

As garantias são elementos-chave para a precificação do risco de crédito. Uma empresa que apresenta garantias reais ou fiança de sócios bem estruturada pode obter melhores taxas e condições.

Exemplos comuns:

  • Cessão fiduciária de recebíveis;

  • Alienação fiduciária de máquinas ou imóveis;

  • Seguro garantia;

  • Garantia via fundo garantidor ou Sociedades de Garantia de Crédito (SGC), especialmente para PMEs.

5. Relacionamento bancário: cultive antes de precisar

O relacionamento com bancos e agentes financeiros deve ser construído no dia a dia, e não apenas quando o crédito é necessário. Manter uma postura transparente, cumprir prazos e atualizar as instituições sobre os resultados da empresa cria uma base sólida para futuras negociações.

Além disso, explore alternativas a bancos tradicionais: fintechs, plataformas P2P, fundos de crédito privado, cooperativas de crédito e FIDCs exclusivos estão cada vez mais presentes e competitivos no mercado.

6. Estruture um pacote de informações para investidores ou bancos

Quando for buscar crédito, não espere ser questionado: antecipe-se. Prepare um data room financeiro, com os principais documentos e análises prontos para consulta:

  • Últimos balanços auditados;

  • DRE dos últimos 3 exercícios;

  • Projeção de fluxo de caixa;

  • Demonstração de resultados projetada com e sem o crédito;

  • Planilha de endividamento atualizada;

  • Cópia de contratos relevantes (aluguel, clientes âncora, etc).

Isso demonstra preparo, transparência e reduz o tempo de análise do credor.

7. Considere estruturar uma operação própria de crédito

Empresas com volume relevante de recebíveis ou faturamento previsível já estão estruturando FIDCs próprios ou exclusivos, que oferecem acesso mais direto, previsível e personalizado ao crédito. Essa modalidade permite transformar recebíveis em funding de forma recorrente, com custos competitivos, desde que bem estruturada com uma gestora e administradora credenciada.

8. Monitore indicadores após captar crédito

Obter crédito é só o começo. Após a captação, é necessário acompanhar os efeitos desse recurso na operação da empresa:

  • O capital está sendo alocado conforme o planejado?

  • Houve melhora na geração de caixa ou na produtividade?

  • Os indicadores de endividamento e liquidez continuam saudáveis?

Essa gestão pós-captação é fundamental para manter a reputação da empresa no mercado e preparar o terreno para futuras operações.

Conclusão

Acessar crédito de forma assertiva é uma jornada que começa com autoconhecimento e passa por estratégia, relacionamento e governança. O mercado financeiro está cada vez mais aberto a empresas médias — desde que elas estejam preparadas para esse diálogo.

A Piove Capital aconselha: profissionalize sua gestão, organize suas informações e trate o crédito como parte de uma estratégia de crescimento, não como uma resposta a emergências. A diferença entre sucesso e endividamento está no planejamento.